segunda-feira, 19 de março de 2018

REDE MUNICIPAL: CARTA EM RESPOSTA AO SECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO DE SÃO GONÇALO: JOSÉ AUGUSTO NUNES


São Gonçalo, 16 de março de 2018.

Resposta à carta do Secretário de Educação, José Augusto Nunes, aos professores e responsáveis do Município de São Gonçalo.

          Senhor secretário, sabemos que a defasagem salarial dos profissionais da Educação de São Gonçalo, vem de longa data, em conjunto, estamos empenhados pela negociação que necessitou ser levada ao Ministério Público para que se chegasse às vias de fato.
        Não é favor o que pedimos em relação ao Piso Mínimo Nacional, amparados pela Lei: 11.738/08. Caso o município não consiga pagar, sabemos que o Governo Federal se prontifica a complementar, mediante a prestação de contas que comprovem a impossibilidade desse pagamento.
            Em relação aos desvios dos profissionais de Educação, lembramos que, os mesmos são desviados por meio de solicitações vindas de terceiros e autorizadas pela SEMED, e que não cabe responsabilizar e penalizar a categoria pela falta de profissionais. Existe um concurso vigente que vem ocorrendo chamadas que não condizem com a carência real da rede.
            O Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação, o SEPE, vem atuando, junto com a categoria, na busca não só por salários dignos, mas pela questão  maior que é uma Educação Pública de qualidade. O diretor recebe a diretoria do sindicato, eleita por nós, como mediadores, mas para chegarmos a um consenso é preciso criar um embate junto ao Ministério Público. 
            Muitas escolas estão trabalhando com redução de carga horária, respeitando o calendário tirado na assembleia da categoria. No entanto, há casos que a redução está ocorrendo, devido a impossibilidade dos mesmos permanecerem em tempo integral, pela falta de professores, que muitas vezes são substituídos por profissionais não qualificados, para simplesmente manter os alunos “presos” dentro da escola. Há ainda, uma carência de funcionários nas escolas, sobrecarregando os poucos que temos, exigindo que os mesmos executem mais de uma função.
            Quanto à comissão do Plano de Carreira, os atrasos se referem aos enquadramentos dados em setembro de 2016, que deveriam ser pagos em janeiro de 2017, sendo já responsabilidade da atual gestão, do Prefeito José Luiz Nanci. No mais, vale ressaltar que nem todos os enquadramentos foram deferidos ainda, além dos 3% referente à formação continuada.
            Lembramos que segundo o nosso Plano de Carreira, o concurso de remoção está anualmente garantido, sendo obrigação do governo realiza-lo, não tendo mérito do governo em afirmar que o fez por conta da negociação.
Em relação à mencionada aposentadoria especial, é um direito adquirido pelos professores a nível nacional, não sendo um privilegio dos educadores de São Gonçalo. É obrigação do governo liberá-la.
No que se refere a 1/3 de planejamento, não deve ser escolhido por escolas, pois todos os alunos têm o direito de um planejamento rico e de qualidade. Esquecendo o senhor, de mencionar aos pais, que as escolas que não possuem o 1/3 garantido, estão trabalhando de graça, para o governo, pois tem que planejar fora da sua carga horária de trabalho.
A argumentação em relação ao reajuste mencionado pelo senhor Secretário de Educação, afirmando que concedeu mais do que o Governo Federal no ano, é muito equivocada, pois vale lembrar que o governo municipal ainda está longe dos 6% oferecido pelo Governo Federal. Já que estamos à duras penas, lutando gradativamente e ´pacientemente para receber os 11,5% neste ano, para chegar ao piso mínimo nacional de 2015, o que nos custará uma perda salarial de ainda 26%. Quando recebermos o piso mínimo nacional de forma integral, que por ora, previsto só para o segundo semestre de 2020, poderá ser vinculado pela SEMED, que recebemos acima do previsto pelo Governo Federal (temos esperança que um dia isso acontecerá na nossa rede). No mais, vale ressaltar o desrespeito com os demais profissionais da Educação, que atuam nas escolas, que recebem um salário base inferior ao salário mínimo (R$788,00 +complementação por fora, para chegar ao salario mínimo, valor este, que não incide sobre os demais direitos do servidor, como triênio). Será que para o governo eles não têm valor? Vamos lutar para que todos tenham o seu direito respeitado!
A respeito da eleição de diretores, a gestão democrática aprovada no PME, é urgente, pois a educação não deve estar a serviço de vontades politicas. A formação do individuo passa pela liberdade de expressão, de escolha, e não de interesses pessoais para uso excuso do poder público.
Vale lembrar ainda que o governo atual estão a 15 meses na gestão e não 7 meses como mencionado na carta veiculada. O trabalho deve ter planejamento e continuidade.
Nós profissionais que lamentamos por ainda estar em negociação por direitos que já foram conquistados e assegurados por Lei.
As paralisações ocorrem pelos profissionais que se preocupam com o bem-estar dos alunos, visto que estamos no cotidiano com os mesmos, pois o processo de aprendizagem, não é computado pela quantidade de horas que os alunos ficam na escola, mas pelo que é oferecido a eles no decorrer do processo. Cadê as aulas diversificadas no 1º segmento: Educação Física, Leitura, Arte? Cadê as estruturas das escolas? Cadê a climatização das Unidades Escolares? Existe ainda uma distância muito grande entre uma Educação Pública de qualidade e a nossa realidade na Rede Municipal de São Gonçalo.
Estamos disponíveis para qualquer esclarecimento e principalmente pela busca da Escola Pública de qualidade para todos, na esperança de garantirmos sempre o melhor para os nossos alunos, que são o maior motivo de estarmos em continuo diálogo.
Não podíamos deixar de mencionar, que uma das inspirações para a escrita desta carta, foi a Marielle Franco, não a vereadora, mas sim, a pessoa, que tinha tudo para trilhar outros caminhos, devido à carência de uma politica publica eficiente do Estado, principalmente nos lugares mais periféricos. Tornou-se uma pessoa, que pensava para além de si mesma, tinha uma preocupação com o coletivo e com os menos favorecidos.        
Em homenagem, a essa lutadora, que encarou o sistema, de cabeça erguida e teve sua vida interrompida, de uma forma tão brutal, porém, sua voz não será silenciada, pois hoje cada um leva consigo, um pouco da garra que ela demostrou na sua trajetória de vida.
                               
                                                        SOMOS TODOS MARIELLE!

Atenciosamente,
Profissionais da Educação da Escola Municipal José Manna Júnior.

A carta foi aprovada e aclamada por todos os profissionais presentes na assembleia de Rede Municipal de São Gonçalo, no dia 16/03/2018.